PRAGA¹

Aglaeudo possuía uma fazendola em Matozinho, aí pelos idos dos anos 70. Não era lá grande coisa: umas duzentas tarefas de um carrasco danado, afeito ao lambe-­beiço e ao mocó. Teimava em criar umas ovelhas e umas cabeças de gado e todo ano, no bê­-erre­-obró, instalava-­se o mesmo pega­-pra-­capar: compra de roça e faca amolada pra tirar o couro dos bichos que não resistiam a estiagem. Apesar de tudo, Aglaeudo cagava goma, chamava a terra, com peito estufado, de: Minha Propriedade. Todo inverno plantava umas roças minúsculas e não podia ser de outro jeito. Em Matozinho, no entanto, estendia, no beiço, o roçado e afirmava, categoricamente, que esperava tirar para mais de quatrocentas cuias de arroz e umas cinco mil sacas de milho. O velho Vanderico, experiente, um belo dia resolveu verificar, in loco, a imensidão da roça alardeada pelo proprietário e, constatando a disparidade, vaticinou na cidade:

­ A roça de Aglaeudo, meus amigos, anum tira num vôo!

O povo gaiato de Matozinho, conhecedor da autonomia de vôo do anum, sorria pelos cantos. Antes da compra, conhecia-se a fazendola, em toda região, carinhosamente por “Carcaça de Boi”. Aglaeudo resolveu, imediatamente depois de adquirí­la mudar para o vistoso nome Wiscosin. Simplesmente, a alcunha não pegou, não só pelo anglicismo, mas por conta das deturpações inevitáveis. Os matutos, frente ao trava língua, usando a lei do menor esforço deram para apelidá-la de: Cusim. O dono, diante da necessidade de matriculá-los todos numa Cultura Inglesa, terminou por desistir.

Vizinho de Aglaeudo, tinha uma pequena gleba de terra, o velho Francalino. Criava uns suínos, entre eles uma porca gigante, raceada de landraço e ladrona como nunca se viu. Tanto que Francalino batizou­a com um nome mais que apropriado: “Brasília”. A porca deu de entrar na roça de Aglaeudo, causando um prejuízo quase que contínuo. O proprietário apesar do caga­-gomismo, carregava uma ótima índole. Mandou avisar seguidas vezes a Francalino do saque quase que diário. Não teve jeito. Passou então a mandar recados mais veementes e ameaçadores e nada!

Um belo dia, Aglaeudo chegou a fazenda de pá virada e flagrando “Brasília” em plena roubalheira, ao invés de abrir uma CPI, pegou a velha soca­-soca e abriu fogo. Espoleta rasgou, a porca tombou. Mandou, então, entregar a Francalino a caça, lembrando que não tinha sido por falta de aviso. Estas pendências agrárias, no Nordeste, não poucas vezes acabam com sangue de outros animais, inclusive de humanos. Francalino mostrou-se injuriado, mas nunca tinha sido homem de briga, principalmente contra Aglaeudo que carregava consigo a fama de esquentado. Esbravejou alguns impropérios e correu para um grande cruzeiro que existia na fronteira das duas fazendas. Abraçou-o e gritou a plenos pulmões e diante de muitas testemunhas:

-­ Miserável, matou a minha porca, mas ele vai ver! Vou rogar uma praga! Se existir Deus no céu, nunca mais chove aqui nesta “Carcaça de Boi”.

1 VIEIRA, J. Flávio. Matozinho vai à guerra. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editor, 2007, pp. 46­48)

Há controvérsias entre os matozenses. Uns, mais supersticiosos, acreditam que Francalino parecia meio feiticeiro e andava costurando boca de sapo em encruzilhada. Os mais céticos afirmam que tudo se tratou de uma grande coincidência. O certo é que, depois do rogo de praga, não mais caiu um pingo em Matozinho. Três anos já haviam se passado e o mundo andava mais seco do que língua de papagaio. De bicho de quatro pés, vivo, só tamborete. O nome “Carcaça de Boi”, percebia-se, claramente, parecia uma premonição. Aglaeudo, desesperado, nem se preocupava com os animais hoje transformados em ossos e couro espichado. Temia já pela sobrevivência da própria família, diante daquela praga do Egito. Deu o braço a torcer. Dirigiu-se para a terra do Vizinho. Encontrou-o ainda meio emburrado e algo temeroso. Aglaeudo, não mediu as palavras:

-­ Francalino, rapaz, tire esta praga, você quer acabar com o Nordeste todinho por causa de uma porca? Se aceitar, eu te dou mais três para compensar a que matei: “Deputada”, “Senadora” e “Prefeita”.

-­ Seu Aglaeudo, nada se compara a “Brasília”, mas tá bom, vou tirar esta praga.

Francalino voltou para o cruzeiro e deu uma contra ordem na praga. A chuva voltou para o gáudio dos matozenses. Houve um acórdão na cidade e todos passaram a tolerar a roubalheiras de “Deputada”, “Senadora” e “Prefeita”. Como concluiu o velho Vanderico:

-­ Tem nada, não! Depois de Brasília, já tá todo mundo acostumado mesmo.

Enumere a segunda coluna pela primeira, classificando as orações abaixo.

(1) Os matozenses sabiam que o prefeito havia chegado.

(2) Como se sabe, eu não gosto de praga.

(3) Não vou discutir com meu vizinho, porque eu sei que isso não se faz.

(4) Vá falar com Francalino, porque é o melhor para todos.

(5) O conhecimento é importante para que sejamos vencedores.

(6) É muito importante que vocês façam as pazes.

(   ) Oração subordinada conformativa.

(   ) Oração coordenada explicativa.

(   ) Oração subordinada subjetiva.

(   ) Oração coordenada completiva nominal.

(   ) Oração coordenada aditiva.

(   ) Subordinada objetiva direta.

A opção CORRETA, é:

Questão sobre Oração Subordinada Substantiva

Disciplina Português

Português

BNCC 'EF09LP08'

'EF09LP08'

Assunto Oração Subordinada Substantiva

Oração Subordinada Substantiva

Dificuldade Médio

Médio

(URCA 2013) - Questão Médio de Português